20 de nov. de 2007

Bote a fome PRA CORRER

A grande notícia é que praticar atividade física regularmente não apenas queima calorias como aumenta a sensação de saciedade. E esse é o jeito mais saudável de controlar e manter o peso
por Vanessa de Sá design Giovanni Tinti fotos Edu Svézia

Esta é de encomenda para quem vive de restrições alimentares por causa dos quilos extras, esses teimosos: um estudo inglês acaba de descobrir que os exercícios físicos são capazes de alterar o apetite. “As pesquisas mostraram que as pessoas que mantiveram o peso estável por mais de um ano fora maquelas que se engajaram num programa regular de atividade física”, disse à SAÚDE! Alex Johnstone, da Unidade de Nutrição Humana do Instituto de Pesquisas Rowett, que fica na Escócia.
Nunca se duvidou de que o exercício, sobretudo o aeróbico, ajuda a controlar o peso, mas os estudiosos sempre se perguntaram até que ponto ele de fato interfere na queda-de-braço contra a obesidade. O argumento, aliás, é bem conhecido: se por um lado mexer o corpo promove o gasto de calorias, por outro a queima de energia levaria a uma fome de leão, pois o organismo buscaria repor o que foi consumido. Segundo as novas evidências, não é o que acontece. “Isso anularia qualquer possibilidade de a ginástica ter efeito na redução de peso”, analisa Denise Robertson, especialista em fisiologia da nutrição da Universidade Surrey, na Inglaterra. “A atividade física é um dos mais importantes coadjuvantes do controle do peso no longo prazo porque, muito além de queimar energia, aumenta a saciedade”, faz coro Marcelo Benedito da Silva Flores, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, que fica no interior paulista.
Seu estudo com roedores submetidos a exercícios segue uma outra linha, mas, no final das contas, reforça a tese inglesa. Ele percebeu que os exercícios liberam uma substância produzida pelos músculos, a interleucina-6, que é levada pelo sangue ao hipotálamo, o centro da saciedade no cérebro. Ali se une aos hormônios responsáveis pela redução da ingestão de alimentos e pelo aumento de gasto de energia. “A interleucina-6 faz com que o cérebro fique mais esperto, mais sensível à ação desses hormônios”, justifica. “O resultado é que, com o tempo, a sensação de saciedade tende a aumentar, sobretudo em quem faz atividade física como rotina.”
Relacionar mais atividade física com menos apetite pode até soar paradoxal, mas a especialista em endocrinologia do exercício Katarina Borer, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, tem uma explicação bioquímica para isso. “O organismo de quem se exercita demanda uma quantidade extra de energia, que é suprida por reservas naturais do corpo, sem requisitar mais alimento.” Em outras palavras, a vontade de comer diminui consideravelmente.
Segundo Borer, a redução do apetite é maior em pessoas que praticam atividade física de forma moderada — o que significa trabalhar a 40% do esforço máximo —, ou intensa — ou seja, a 80%. Falta agora precisar quanto tempo de prática regular produz os efeitos sobre o apetite. Mas já se sabe que a ginástica eleva os níveis de hormônios responsáveis por avisar o cérebro que o estômago está cheio. É o caso do PYY, que “desliga” a vontade de comer. “Uma única sessão de exercícios foi capaz de reduzir o apetite por até uma hora e meia — o suficiente para fazer com que os voluntários comessem menos na refeição seguinte”, explica uma das autoras do estudo inglês.
James Stubbs, especialista em prevenção de ganho de peso da organização britânica Slimming World, relativiza toda essa discussão e aposta mesmo no balanço de energia. “Quem não quer engordar deve estar atento no quanto come e no quanto gasta”, recomenda. “Se você queima 500 calorias mas ingere as mesmas 500 só conseguirá manter o peso. O problema é que muita gente vai à academia e pensa que está consumindo muito mais energia do que de fato está. Daí o abuso, que põe tudo a perder.”
QUÍMICA EM JOGO A fome e a saciedade resultam do equilíbrio entre os hormônios que aumentam e reduzem a vontade de comer ›› LEPTINA – Produzida pelas células do tecido adiposo, atua no centro de saciedade no cérebro, o hipotálamo. Assim cai a ingestão de alimentos e cresce o gasto energético.›› INSULINA – É fabricada pelas células beta do pâncreas e age como a leptina. ›› CCK – A colecistoquinina (CCK), liberada na corrente sangüínea pelas células do duodeno, estimula o centro de saciedade a impedir a ingestão exagerada de calorias.›› GRELINA – Um dos mais potentes estimuladores do apetite, esse hormônio age bem na hora do almoço. ›› PYY – Produzido pelas células do intestino em resposta ao alimento, ele atua como uma espécie de força contrária à grelina. Ao chegar ao cérebro, desliga a vontade de comer.
FÁBRICA DE HORMÔNIOS Entenda como são produzidas as substâncias responsáveis por manter o peso adequado
A BALANÇA ENERGÉTICA A manutenção do peso depende do equilíbrio entre a quantidade de energia que você fornece ao corpo (comida) e o tanto de energia que é queimada (exercício) ›› QUER ENGORDAR? Se você é sedentário, provavelmente tem um gasto de energia muito pequeno. A menos que faça uma restrição radical de calorias, provavelmente irá engordar. ›› QUER EMAGRECER? Nesse caso, aumente o gasto de energia praticando atividade física e reduza a ingestão de calorias.
O QUE COMER DEPOIS DO EXERCÍCIO Estas são as recomendações de Tânia Rodrigues, nutricionista da RG Nutri, uma expert em atividade física ›› Faça uma refeição rica em carboidratos para repor os estoques de energia do músculo que foram perdidos durante a malhação. Pães, macarrão e batata são ótimas opções.›› Leite e derivados, assim como ovos — boas fontes de proteína —, ajudam na reestruturação da massa muscular.›› Grãos integrais, frutas, verduras e legumes mantêm em alerta as defesas do corpo e ajudam no bom funcionamento hormonal.›› Sucos, em especial os de frutas cítricas, são ótimos para hidratar. Sem contar que fornecem carboidratos e vitaminas, principalmente a C, o nutriente famoso por combater os radicais livres e fortalecer o sistema imunológico, prevenindo infecções.›› Evite as gorduras. Além de prejudicar a digestão, elas não atuam na regeneração muscular
INFOGRÁFICOS GIOVANNI TINTI E ERIKA ONODERA/PRODUÇÃO ANDREA VILAS BOAS / CABELO E MAQUIAGEM EDU LOPES QUEEN’S /OLYMPIKUS / SPEEDO / CONDOR / MARIA VALENTINA
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Esta é de encomenda para quem vive de restrições alimentares por causa dos quilos extras, esses teimosos: um estudo inglês acaba de descobrir que os exercícios físicos são capazes de alterar o apetite. “As pesquisas mostraram que as pessoas que mantiveram o peso estável por mais de um ano fora maquelas que se engajaram num programa regular de atividade física”, disse à SAÚDE! Alex Johnstone, da Unidade de Nutrição Humana do Instituto de Pesquisas Rowett, que fica na Escócia.
Nunca se duvidou de que o exercício, sobretudo o aeróbico, ajuda a controlar o peso, mas os estudiosos sempre se perguntaram até que ponto ele de fato interfere na queda-de-braço contra a obesidade. O argumento, aliás, é bem conhecido: se por um lado mexer o corpo promove o gasto de calorias, por outro a queima de energia levaria a uma fome de leão, pois o organismo buscaria repor o que foi consumido. Segundo as novas evidências, não é o que acontece. “Isso anularia qualquer possibilidade de a ginástica ter efeito na redução de peso”, analisa Denise Robertson, especialista em fisiologia da nutrição da Universidade Surrey, na Inglaterra. “A atividade física é um dos mais importantes coadjuvantes do controle do peso no longo prazo porque, muito além de queimar energia, aumenta a saciedade”, faz coro Marcelo Benedito da Silva Flores, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, que fica no interior paulista.
Seu estudo com roedores submetidos a exercícios segue uma outra linha, mas, no final das contas, reforça a tese inglesa. Ele percebeu que os exercícios liberam uma substância produzida pelos músculos, a interleucina-6, que é levada pelo sangue ao hipotálamo, o centro da saciedade no cérebro. Ali se une aos hormônios responsáveis pela redução da ingestão de alimentos e pelo aumento de gasto de energia. “A interleucina-6 faz com que o cérebro fique mais esperto, mais sensível à ação desses hormônios”, justifica. “O resultado é que, com o tempo, a sensação de saciedade tende a aumentar, sobretudo em quem faz atividade física como rotina.”
Relacionar mais atividade física com menos apetite pode até soar paradoxal, mas a especialista em endocrinologia do exercício Katarina Borer, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, tem uma explicação bioquímica para isso. “O organismo de quem se exercita demanda uma quantidade extra de energia, que é suprida por reservas naturais do corpo, sem requisitar mais alimento.” Em outras palavras, a vontade de comer diminui consideravelmente.
Segundo Borer, a redução do apetite é maior em pessoas que praticam atividade física de forma moderada — o que significa trabalhar a 40% do esforço máximo —, ou intensa — ou seja, a 80%. Falta agora precisar quanto tempo de prática regular produz os efeitos sobre o apetite. Mas já se sabe que a ginástica eleva os níveis de hormônios responsáveis por avisar o cérebro que o estômago está cheio. É o caso do PYY, que “desliga” a vontade de comer. “Uma única sessão de exercícios foi capaz de reduzir o apetite por até uma hora e meia — o suficiente para fazer com que os voluntários comessem menos na refeição seguinte”, explica uma das autoras do estudo inglês.
James Stubbs, especialista em prevenção de ganho de peso da organização britânica Slimming World, relativiza toda essa discussão e aposta mesmo no balanço de energia. “Quem não quer engordar deve estar atento no quanto come e no quanto gasta”, recomenda. “Se você queima 500 calorias mas ingere as mesmas 500 só conseguirá manter o peso. O problema é que muita gente vai à academia e pensa que está consumindo muito mais energia do que de fato está. Daí o abuso, que põe tudo a perder.”

http://saude.abril.com.br/edicoes/0288/corpo/conteudo_246797.shtml?pagin=2

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