Algumas mulheres conseguem se vestir com muita criatividade – e aparentemente zero esforço – dia após dia. Elas são As Mulheres Que-Têm-Estilo. Se você não é uma delas, relaxe: estilo se aprende.
Coco Chanel, Jackie O., Jane Birkin, Kate Moss. O que elas têm em comum? Da francesa avant-garde à primeira-dama do easy chic americano, da musa do bohemian à modelo do hi & lo, o que liga essas mulheres é o elemento principal da arte de se vestir: o estilo. Numa época em que as tendências estão disponíveis em lojas de todos os preços – neste inverno, as botas de cano curto são vendidas tanto na aristocrática Dior como na cadeia pop Renner, vestidos de tricô estão nas araras da descolada NK Store e da tradicional Daslu –, o estilo é a nova meta para se destacar numa multidão de gente que anda na moda. Não é à toa que os serviços de personal tudo – stylist, shopper, hair stylist e até eyebrow designer (sim, de sobrancelhas!) – são o último produto de consumo. “A busca é se tornar única em meio à ditadura de um único modelo estético”, diz Rosane Preciosa, professora do curso de design de moda da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, e autora de Produção Estética: Notas Sobre Roupas, Sujeitos e Modos de Vida.
Para quem tem tempo de menos e dinheiro de mais, esses serviços são a invenção do século 21. Os profissionais têm olhos treinados para melhorar sua embalagem. Mas o jeito mais eficiente de criar uma versão melhor de si mesma é mexer no conteúdo. “O estilo tem a ver com o autoconhecimento”, diz Carol Porto, da Mixed, que faz o gênero “clássico com bossa”. “Só quando aceitamos quem somos, nos sentimos seguras para apostar nas próprias idéias de moda. Aí o estilo cresce e aparece.” Conquistar o autoconhecimento – seja pelo reflexo no espelho, seja no divã da psicanálise – não é tarefa fácil. Funciona como um exercício diário, algo que se cultiva e – principalmente – muda a cada capítulo da nossa biografia. “Ninguém nasce estilosa. A gente vai se lapidando com o tempo”, diz a estilista Agatha Felix, adepta da mistura fina de short de alfaiataria com regata básica. Para encontrar seu jeito de vestir, há princípios a serem adotados e adaptados, pois não existe nada pior do que seguir uma lição de cor. ELLE listou os dez passos definitivos para você criar o seu estilo próprio.
DEFINA-SE É um dos conselhos mais antigos do mundo: diga-me como você anda que eu lhe direi quem és. Adaptações à parte, a mensagem do ditado é simples: quem você é – de corpo e personalidade – e a imagem que você projeta devem caminhar juntos. Do contrário, você correrá o risco de parecer fantasiada ou passar toda santa manhã por uma cena conhecida – o eterno abre-e-fecha do guarda-roupa e a ladainha do “não tenho nada para vestir”. Por isso, responda sem subterfúgios: quem é você? Qual é a sua idade e profissão? Onde você mora e para onde costuma viajar? Que lugares freqüenta? Que tipos de compromisso lotam a sua agenda? “O estilo bem-resolvido só pode ser construído com base em dois pilares: estilo de vida e biótipo”, defende a estilista Isabella Giobbi, que gosta de peças atemporais e investe sem medo no que gosta. Quando você define se é clássica, retrô, romântica, divertida, chic, moderna ou futurista – ou uma mistura entre esses estilos –, faz compras certeiras e recheia o seu armário de roupas lindas e usáveis.
MEMORIZENão pense que, do nada, você vai ter uma idéia incrível de produção. Você precisa, digamos, alimentar a criatividade. Como? “Monte um mural, um caderno, uma pastinha com imagens que a atraiam instintivamente”, aconselha Adriana Barra, a estilista que pôs na moda tudo o que ela ama de paixão, dos vestidões às megaestampas. “Foi dessa maneira, durante a faculdade, que descobri que amava as cores, as estampas e o vintage.” Cole tudo: ilustrações, pinturas, esculturas, fotos de moda antigas, looks de passarela, fotos de atrizes vestidas como você gostaria de se vestir, a fachada de uma casa, uma cadeira assinada, a capa de um CD, um carro que você gostaria de ter, um anúncio de moda. A pesquisa vai delinear claramente qual o seu gosto e ser uma fonte eterna de consulta para cores, produções, modelagens. Eterna, mas não imutável. À medida que o tempo passa e você adiciona novas imagens, percebe como o seu gosto vai mudando naturalmente. E isso ajuda a refinar o seu estilo.
LIMPEPara que o novo entre, se desfaça do que não serve mais. Encare uma superlimpeza no armário. Tire tudo e reavalie se cada peça que você guarda nele tem a ver com quem você é, se lhe cai bem, se não está acabadinha demais, se não ficou na moda do século passado. Esse passo ajuda a enterrar a pessoa que você não é mais, abre espaço para o novo e facilita a visualização das peças. Repita o passo periodicamente e doe ou venda o que não vai mais usar. “É preciso saber exatamente o que mora no closet”, recomenda Isabela Capeto, a estilista carioca que entrou para a história da moda com uma moda artesanal, diferente de tudo o que se fazia no fim do século 20 no Brasil. Devem morar peças do passado que continuem em plena forma e função. Tudo para misturar com as recém-chegadas.
RECHEIE“Toda mulher deve ter curingas”, diz a estilista Agatha Felix. São as primeiras peças que vão entrar no novo armário para misturar com suas peças mais bacanas: 1 vestido, 1 terno, tricôs (de golas V, canoa e rulê), 1 camisa branca, 1 escarpim, 1 bota, 1 sandália fina de salto, 1 rasteira, 1 jeans, 1 jaqueta, 1 bolsa de cor neutra. Nem todas são obrigatórias – de que adianta um terno se você não precisa dele para trabalhar e detesta a idéia de vesti-lo para uma festa? O segundo passo é investir nos itens que não estão no closet. Considere todas as áreas da sua vida, do trabalho ao lazer. Uma advogada sempre precisará de boas calças de alfaiataria, por exemplo. Verifique que cores, estampas, tecidos e modelagens faltam. Faça uma lista real e possível e vá às compras prestando atenção no que está na moda e, claro, no seu estilo.
AME E AME-SE
Não guarde roupas e acessórios de que você gosta mais ou menos ou só um pouco. Eles ocupam espaço e têm uma desvantagem grave em relação às peças que se ama de paixão: não trazem a sensação de segurança que a produção certa proporciona. Um jeito de medir o impacto da produção são os elogios que ouve quando a veste. Se os olhos alheios pescam o look, bingo: ele cai bem no seu tipo físico e na sua personalidade. Repita a produção toda vez que precisar de uma dose extra de autoconfiança. Em tempo: amar-se significa também jamais abrir mão do conforto. “Como ser estilosa com um sapato apertado ou uma roupa pinicando?”, diz Helena Linhares, a superfashion dona da multimarcas Pelu, de São Paulo.
COMPRE O NECESSÁRIONão caia na tentação de gastar o cartão de crédito por impulso absoluto – você vai se arrepender como quem quebra uma dieta razoável comendo uma caixa inteira de chocolates. As chances de comprar errado e gastar em vão são grandes. Portanto, saia para as compras como quem vai ao mercado: com uma lista em mãos. Saiba exatamente do que você precisa – caro ou em conta, necessário ou um mimo – para servir como uma boa sacada na hora de se vestir.
LIBERTE-SEO estilo tem a ver com a liberdade. “Não acredito em uniformes nem em regras do tipo todo-mundo-tem-que-usar-tal-coisa”, afirma Isabela Capeto. Desconfie de padrões que estabelecem que vermelho não combina com rosa, calça branca só se usa no verão. Não se censure se tiver vontade de vestir algo que a moral fashion condena – como um chapéu amarelo –, desde que saiba usar bem. Provoque a moda vestindo um terno com uma gravata feita de cinto. Ou acinture uma blusa ampla com dois cintos finos de cores diferentes. Ou o que você bem quiser. “Quando se fica presa a clichês, perde-se a originalidade”, diz Isabella Giobbi.
MISTURESe você não é deslumbrada com monogramas, não deveria sequer cogitar usar bolsa Chanel + óculos Dior + cinto Gucci + sapatos Vuitton + jaqueta Prada de uma vez só. Muitas grifes juntas matam a grife. Não adianta se esconder atrás de looks assinadíssimos, pois estilo independe de etiqueta. O melhor é dar o papel principal a uma ou duas boas peças de marca. E pense low-profile para o resto. Boas combinações: jaqueta de motoqueiro e bolsa matelassê Chanel a tiracolo; camisa masculina com bolsa Dior bem chamativa; minissaia e bolsa grande e bordada de Jamin Puech.
BALANCEIETer estilo é saber renunciar às tendências que não são para você, aos comprimentos que não se adaptam, às cores que não combinam com a pele. Aproveite ao máximo os seus trunfos: pernas, altura, seios, ombros, cintura. Da mesma forma, é melhor colocar de lado o que não é da sua idade. Por exemplo, a minissaia, mesmo quando se tem ainda belos pernões – mas não mais um espírito adolescente. “Bom senso é fundamental para não sair fantasiada de fashion victim”, diz Carol Porto, da Mixed.
RENUNCIEDefinitivamente, o estilo não é eterno, como a pedra da Gávea, roubando a frase de Nelson Rodrigues. Ele reflete um momento da sua vida – e, toda vez que você muda de casa, emprego, namorado, é natural que sua imagem se transforme também. Por isso, dê boas-vindas às mudanças. “Já passei por momentos mais coloridos, outros mais neutros, uns mais tradicionais e outros mais ousados. Tenho fases e me sinto à vontade com isso“, diz Helena Linhares. Nem sempre é preciso esperar por um ciclo se concluir e outro começar para fazer uma reforma visual. Às vezes, basta inovar no dia-a-dia. “As minhas trademarks são coloridas. Faço o tipo Frida Kahlo moderna”, confessa Adriana Barra. “Mas às vezes gosto de surpreender todo mundo e apareço com um pretinho sexy, salto Louboutin, coque e toda maquiada. É divertido.” E saber se divertir é sem dúvida a alma desse negócio!
24 de nov. de 2007
Estilo Próprio em 10 Passos
Postado por Carla às 12:44
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário